quarta-feira, 30 de julho de 2014

Palavra


(poema sem título)

Palavra…
Luz ingrata!
Admitais ao menos
uma vez
que pela gramática
fostes domesticada.

Palavra…
tremor da fala,
pensamento febril
da boca que cala.

Palavra…
inventário da galáxia,
dormiteis no feto
de uma rima rara.

Palavra…
Limbo cotidiano,
vossa proeza é deixar pó,
como objeto, na língua
daquele que vos fala.


(do livro Palavra)

simples assim...

simples assim...

para se abrir
a flor
cativou pétala por pétala
o pensamento de deus



do livro chorando reticências

Madrugada na janela

(poema sem título)

Madrugada na janela
e juntos
de mãos dadas
domesticávamos o coração

Ninguém sabia
mas
na fotografia não éramos felizes

Havia uma avidez
de vida
de fome
de água

Havia uma discórdia
no retrato do tempo

No mar que banhávamos nosso
indiscreto desejo

o oceano já estava seco.